Nos últimos dias, o Rio Grande do Sul tem enfrentado a maior tragédia climática de sua história. Este evento catastrófico ressalta uma lacuna crítica em nossa infraestrutura de comunicação e preparo civil: a falta de orientação e treinamento efetivo para a população sobre como agir em situações de calamidade. Diante deste cenário, a publicidade não apenas pode, como deve, assumir um papel fundamental na educação e preparação da sociedade.
Durante minha recente participação como jurado no Prêmio Profissionais do Ano da Rede Globo, na categoria "Valor Social", presenciei o impacto significativo que campanhas bem orientadas podem ter. A campanha "Recife Limpo", desenvolvida pela Agência Ampla, é um exemplo notável. Ela não só elevou a conscientização sobre o descarte correto de resíduos para evitar enchentes, mas também reforçou o papel da cidadania ativa na manutenção da saúde urbana.
Esta campanha destaca uma verdade incontestável: a publicidade, quando empregada com responsabilidade social, pode transformar comportamentos e até salvar vidas. Não é apenas uma ferramenta de marketing, mas um veículo para educação pública e ação cidadã.
Um estudo da Kantar Ibope Media revela que 93% da população das regiões metropolitanas assiste regularmente à televisão, com um aumento de 12% no tempo dedicado a essa mídia nos últimos dez anos. Este dado sublinha o poder da mídia tradicional como canal eficaz para campanhas de informação pública, especialmente em momentos críticos.
Em resposta à crise atual, a Bistrô transformou sua sede física em um centro de coleta de doações, enfatizando nosso compromisso com a comunidade. Estamos coletando água, alimentos, roupas e produtos de higiene e limpeza para auxiliar as vítimas das enchentes, mostrando que a ação pode e deve ser parte da responsabilidade social corporativa.
A tragédia do Rio Grande do Sul deve servir como um ponto de inflexão para reavaliarmos a função da publicidade estatal. Por que, em momentos críticos, a comunicação do governo frequentemente falha em fornecer orientações claras e acessíveis? Por que campanhas de preparação e resiliência não são disseminadas continuamente e com a seriedade necessária?
É vital que repensemos o uso dos recursos públicos em publicidade. Em vez de concentrar esforços em promover imagens governamentais, esses recursos deveriam ser direcionados para a criação de campanhas robustas e educativas que instruam a população sobre ações efetivas em momentos de crise. Isso inclui desde procedimentos de evacuação detalhados, até informações sobre vacinação e prevenção de doenças. Por exemplo, durante a crise da COVID-19, observamos uma deficiência significativa em campanhas estatais informativas e contínuas. Essa lacuna na comunicação oficial não só perpetuou a desinformação, mas também contribuiu diretamente para o não cumprimento das medidas de saúde pública essenciais. A falta de diretrizes claras e acessíveis exacerbou o caos e a incerteza, resultando em um agravamento da crise. Por isso, é essencial que as campanhas não apenas informem, mas também engajem a população através de mensagens claras, verificáveis e repetidas, que possam efetivamente guiar os cidadãos durante emergências. A publicidade estatal deve ser uma ferramenta de empoderamento cívico, proporcionando orientações e fomentando uma cultura de preparação e prevenção contínua, capaz de equipar a sociedade para responder de maneira coordenada e eficiente a qualquer desafio.
Faço um apelo aos meus colegas do setor publicitário, aos decisores políticos e aos líderes comunitários: vamos repensar e redefinir o papel da publicidade no âmbito estatal. Que a tragédia que assola nosso estado inspire uma nova era de publicidade cidadã, uma era onde cada campanha tenha como core a resiliência, a educação e o fortalecimento comunitário. Este é o compromisso da Agência Bistrô, e nossa visão para uma sociedade onde a informação é a base para a segurança e a prosperidade de todos.
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