São João: além dos estereótipos, o Nordeste como potência
- Gabriel Besnos
- 24 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

Protesto silencioso durante festejos juninos do edifício Copan, em São Paulo
A imagem promocional da novela "No Rancho Fundo", da TV Globo, divulgada no final de março, trouxe à tona um debate antigo e necessário: a representação do Nordeste na mídia brasileira. Uma paleta de cores amarelada e personagens com aparência sofrida geraram comentários nas redes sociais criticando fortemente essa visão distorcida e unilateral de uma região rica e diversa. A própria direção e os criadores da novela trataram de reforçar que a obra representaria um Nordeste multifacetado, que têm seus bolsões de pobreza, mas também pujança econômica.
A representação midiática molda percepções e, consequentemente, atitudes. O Nordeste brasileiro não é apenas um cenário de adversidades e miséria; é uma região vibrante, repleta de cultura, história e potencialidades. Este potencial é visivelmente destacado durante os festejos juninos, que não só celebram a cultura nordestina mas também impulsionam a economia regional.
De acordo com matéria do Meio e Mensagem, o São João é hoje uma das festividades mais importantes do calendário brasileiro, movimentando bilhões de reais em setores como turismo, alimentação, vestuário e entretenimento. Grandes marcas estão cada vez mais atentas a essa oportunidade, desenvolvendo campanhas que buscam conectar-se genuinamente com os consumidores nordestinos e celebrar suas tradições de forma respeitosa e autêntica.
Nomes como Natura, Perdigão, Deline, ClickBus, Americanas, e muitas outras, têm se destacado nas ativações juninas. A Natura, por exemplo, lançou a campanha “E se seu cheiro fizesse uma festa?”, com ativações em Campina Grande, Gravatá e Uruoca, destacando-se pelo envolvimento profundo com a cultura local através de parcerias com artistas visuais nordestinos. Já a Perdigão, tradicional patrocinadora do São João de Caruaru, reforçou sua presença com produtos típicos e ativações no local, demonstrando uma estratégia que vai além da simples presença de marca, buscando criar experiências memoráveis para os consumidores.
A Deline também não ficou de fora, patrocinando eventos em Caruaru e Arcoverde e lançando embalagens comemorativas, além de participar da produção do maior cuscuz do mundo, uma verdadeira celebração da cultura local. Estas ações não apenas aumentam a visibilidade das marcas, mas também consolidam sua presença e relevância no mercado nordestino.
Para que essas ações sejam eficazes e respeitosas, é fundamental que as marcas evitem estereótipos e adotem uma abordagem mais diversa na sua comunicação. A diversidade cultural do Nordeste deve ser celebrada em toda a sua riqueza e complexidade, não reduzida a caricaturas simplistas. Este é um ponto que sempre enfatizo em nossa orientação na Bistrô: ver a diversidade como um ativo estratégico e não apenas um modismo passageiro.
Recentemente, tive a oportunidade de vivenciar a Festa Junina do edifício Copan, em São Paulo. O evento estava repleto de barraquinhas com comidas típicas, shows e um movimento intenso de pessoas ansiosas por participar dessa celebração comunitária. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi um protesto silencioso de um artista nordestino que espalhou cartazes pelo espaço da festa com frases impactantes como "Nordeste não é só um tema" e "Paguem bem, com honestidade". Isso me fez refletir sobre a necessidade de valorizar e proteger as expressões culturais, garantindo que seus criadores sejam justamente recompensados.

A concorrida Festa Junina do Copan, em São Paulo, revela a potência econômica da cultura nordestina
Na Bistrô, trabalhamos para que nossas campanhas representem a diversidade de forma autêntica e impactante. Sabemos que isso não só amplia a conexão das marcas com seus públicos, mas também promove um ambiente de respeito e valorização dos diferentes agentes culturais. Por isso, temos trabalhado com criadores de conteúdo nordestinos, por exemplo, e contratado profissionais da região que nos ajudam a perceber vivências reais – e entender também que o Nordeste não é "uma coisa só". São muitos "Nordestes", todos ricos e complexos.
Assim, ao celebrar o São João e seus arraiais, que possamos enxergar além dos estereótipos e reconhecer a verdadeira essência do Nordeste: uma potência cultural e econômica que contribui imensamente para a riqueza e diversidade do Brasil.
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